8 de novembro de 2007

EU E DEUS

Desde cedo na minha vida que a religião não se coaduna com a minha personalidade. Pequena, com 5 anos, a minha mãe católica convicta, na altura, tentava incutir-me os desígnios e a fé em Deus. Eu, com o meu raciocínio de 5 anos, não achava lógico a existência de um Deus. À frase: Deus está no céu, eu respondia de dedo no ar: Não está não! O homem já foi ao céu (lua) e não estava lá nada!
O tempo passou e algumas vezes ‘’socorri-me’’ de Deus. Tinha 8 anos quando uma noite me lembrei de rezar pelas melhoras da minha professora que estava em fase terminal de cancro. Rezei, com força, com empenho, se Deus existe ouvir-me-á.
No dia seguinte, quando cheguei à escola, contaram-me: A professora morreu esta noite!
Foda-se! Diria eu, se na altura tivesse esta linguagem. Não tinha e calei-me. Pensei e culpei-me pela morte da professora. Rezei e ela morreu!!!! Achei que a tinha matado!
Passou uns anos e novamente rezei um dia inteiro pela saúde do meu pai, que tinha ido a um médico novo e especialista. Depois de um DIA INTEIRO de rezas, o veredicto: Não há nada a fazer!
Nesse dia desisti. Deus não existia. Como posso ter fé em algo que nunca me provou que existe? Como posso acreditar em algo que nunca me ouviu quando eu precisei?? Fé sem provas? Pedir, não ser atendida mas continuar a acreditar?? Não dava mais. Se dúvidas havia, deixei de as ter. Somos responsáveis pela nossa vida e não há nada superior que olhe por nós. Aprendi a viver sem acreditar.
Hoje com 32 anos e sem acreditar, aprendi a aceitar as ‘’desgraças’’ como ‘’infelicidades que acontecem’’. Só em caso da morte de pessoa próxima é sinto que quem acredita em Deus encara melhor a situação melhor que eu. Quem acredita que depois da morte, vem o Céu, a Eternidade, tem algo a que se agarrar na hora da despedida.
Quem não acredita como eu, vê um caixão, um corpo, terra fria e o FIM!
Não tenho forma de lidar com a morte, excepto chorar até me cansar e recordar a pessoa que existiu com carinho e saudade.
Nestas horas aproveito para uma introspecção e avaliar a minha vida.
Hoje sinto que a minha família é o meu reduto, o meu tesouro a minha VIDA.
Tudo o resto é dispensável e cada vez mais abomino as pessoas materialistas.
Não suporto conversas de ‘’Eu tenho...Eu Posso....Eu comprei....Eu Quero’’.
Hoje avaliei as pessoas que fazem e fizeram parte da minha vida e dessas quais merecem fazer parte do meu futuro e quais não merecem sequer a recordação do passado.
Hoje vi pessoas como elas realmente são mas que nunca as tinha visto dessa forma.
Hoje vi seres grandes, enormes, de coração e alma partida em mil pedaços mas de pé como as árvores.
Hoje vi seres pequenos, ridículos no seu egocentrismo, réplicas do palhaço rico, ignorando que o mundo prefere o palhaço pobre.
Hoje senti dor, angústia, solidariedade, mágoa.
Dor por quem partiu, dor por quem ficou, angústia por nada poder fazer, solidariedade por quem merece um abraço amigo, mágoa por afinal não existir o tal Deus protector.

3 comentários:

Mobster disse...

Eu acredito em Deus.

Mas também não lido bem com a morte...nao me emociono como se calhar devia.

Fico...sério, frio e indiferente

tavguinu disse...

desculpa lá mas vais levar nas trombas aqui do menino que estudou num colégio de padres...

não se reza só em alturas de necessidade.

Melody disse...

Se aceitares que a morte é tão real como a vida, vives melhor com essa ideia.
A Imortalidade é tudo o que quem parte nos deixa dentro de nós. É fazer e estar como eles gostariam que estivessemos.
Quanto a Deus...mais vale só que mal acompanhada!