ONDE SE ARRANJA UMA LINGUA ''LAMBE-BOTAS''???

Raro é o dia em que não me pergunto o porquê de ser como sou.
Raro é o dia em que não gostaria de ser igual aos outros, pensar da mesma forma, agir da mesma forma, ir no meio da confusão sem dar nas vistas.
Mas não, a vossa amiga nasceu com a ‘’mania’’ que é diferente.
Tento controlar esta minha faceta mas volta e meia ela revolta-se e salta cá para fora.
Tenho vindo a aperfeiçar a arte de ouvir e não responder.
Uma forma brilhante de passar por ‘’normal’’ mas há dias de cão.
Há dias em que aquilo que oiço é de tal forma bizarro para os meus lindos neurónios loiros, que quando dou por mim, já mostrei ao mundo a minha faceta rebelde e refilona.
Às vezes só reparo que fiz merda, quando vejo estampado na cara dos interlocutores o ar de espanto, critica e quiçá ‘’esta gaja é parva’’.
Tenho perdido muito com isto e acho que o destino está traçado.
Não hei-de passar da ‘’cepa torta’’ e hei-de ser sempre uma pobretanas!
Não nasci ‘’normal’’ ou seja, nasci desprovida da capacidade de lamber botas.
Eu sei, eu sei, é vergonhoso, um escândalo, sou uma deficiente…mas tenho que aceitar esta dificuldade, fruto de algum bate-boca no meu código genético.
Olho à volta e todos parecem possuir esta capacidade. Menos eu!!
Se juntarmos esta deficiência física a uma boca que fala mais rápido do que as ordens do cérebro para que se cale, dá a cena de hoje na empresa:

9:00 horas

Ele: Reparaste nas bandeiras?
Eu: hã?
Ele: temos as bandeiras a meia haste, morreu a mãe do nosso patrão
Eu: Ah sim?
Ele. Pois é, já viste, coitada…
Eu: Mas ela não era já velha???
Colega escandalizado

9: 30

Toca o telefone, era uma colega do piso inferior
Ela: olha, como é que é? Vais ao funeral ou ao velório?
Eu: hã??
Ela: Não vais ao funeral da mãe do patrão?
Eu: epá…..não sei, é suposto ir??
Silêncio demonstrativo de espanto
Ela: Claro que é!
Eu: ( A tentar salvar-me) Olha não sei, deixa ver como corre o dia, se alguém combina alguma coisa….

10:30

Ele: Olha, a secretaria do patrão pediu para tu recolheres o dinheiro…
Eu: Qual dinheiro?
Ele: os 3,50 € de cada um para a coroa de flores
Eu: (aqui brilhei. Pensei mas não disse. ‘’Oh caralho mas nem sequer perguntam se queremos dar ou não?? È obrigatório??’’) Está bem. PESSOALLLLLL, VÁ, TUDO A DAR 3,50 €!!!!

16:00

Toca o telefone, era a colega do piso inferior outra vez
Ela. Olha, a senhora já tá na igreja, o funeral é às 14:30.
Ela: Tive a pensar, não dá jeito irmos lá agora
Ela: Vamos amanhã à hora do almoço, damos um beijinho(???) e está feito.
Eu: Epá, não sei se me apetece, sabes eu funerais só obrigada, eu nem vou aos da minha família
Ela: (Já irritada) Mas eu tenho que ir!!
Eu: Força então!
Desligou amuada


17:30

Toca o telefone, era a secretária do patrão
Ela: Vais lá agora?
Eu. Vou onde?
Ela: Ao velório
Eu: Não!
Ela: Não vais??????? Mas……
Eu: (interrompendo) Epá, tenho um filho pequeno em casa à minha espera…
Ela: Mas se não vais, depois reparam e passas por fria e que não ligas nenhuma e…
Eu: (interrompendo outra vez) Agora não posso! Amanhã logo vejo se vou ao funeral.

18: 20

Via Messenger, colega da mesa ao lado
Ele: Olha estive a pensar, é melhor irmos lá amanhã
Ele: Afinal o gajo está a tratar dos aumentos e é melhor não ficarmos mal na fotografia.

Perceberam agora???