21 de maio de 2007

Nós e os nossos chassos....

Para a rapaziada que tirou carta após o ''Programa de Incentivo ao Abate de Veiculos'' o termo chasso pode ser totalmente desconhecido mas para a generalidade da geração nascidos na década de 70, o chasso é mais que um veiculo, é uma CULTURA DE VIDA!!


Ora então o que era um chasso:

- Chasso, veiculo automóvel com pelo menos 15 anos de idade, 150.000 km ''marcados'' em conta-kilómetros analógico (o que podia significar uns razoáveis 300.000 km efectivos) e problemas mecânicos de toda o genéro e especie.




O chasso era o primeiro veiculo em que punhamos as mãozitas (e os pézitos) a seguir a tirar a carta. Naquela epóca, quase ninguem tinha carro novo ao tirar carta. Até aqueles sortudos vindos de famílias mais abonadas, inevitavelmente faziam o seu estágio no chasso que já tinha sido do avô e do pai, e do irmão e do primo....e só depois de um ano a ''asneirar'' no chasso, lá teria chance de conduzir algo melhor.


O chasso é um veiculo para todas as ocasiões. Para ir trabalhar, para ir para a faculdade, para as idas à praia com os amigos, para sair à noite, como quarto de motel. Sim, se a malta não tinha guito para o carro, também não tinha guito para o quarto de hotel.


O chasso era uma preparação para a vida. Sem direcção assistida, vidros eléctricos, tecto de abrir, fecho centralizado, ar condicionado, GPS, ABS, Air-bag, computador de bordo, etc, quem os conduzia aprendia muito com eles.

Não se iniciava uma viagem até ao Algarve sem antes comprar uma lata de 5 litros de oleo, um jogo de velas, lampadas várias, fusiveis e um jerrycan de água.

Se as luzes interiores falhassem à noite, era só dar uma pancada no tablier. Os espelhos caiam, as tubagens rebentavam em andamento, consumia 22 litros de gasolina super (com chumbo) aos 100 km, a buzina calava-se com o calor. Estacionávamos os chassos a braço quando os lugares eram pequenos, parávamos na berma para meter óleo quando as luzes vermelhas do tablier acendiam todas de repente, punhamos água quando a temperatura passava dos 100 ºC.
Repáravamos o radiador e ficavamos sem bateria. O escape caía em andamento.
Sintonizámos o rádio rodando o botãozinho e quando muito ouviamos uma cassete. Evitávamos bater com os pés no fundo do carro pois na maior parte das vezes a ferrugem podia ceder e abriamos um buraco.
Em certas noites mais quentes até as forras das portas não aguentavam tanto ''amor''.


O chasso era uma parte de nós. Gastávamos o ordenado todo para o manter a andar e verdadeiramente nunca chamei o reboque para levar o chasso para casa. Havia sempre forma de o pôr de novo em funcionamento. Eram autênticos carros de combate.


Eventualmente, todos nós os mandámos para a sucata mas eu tenho pena. Pena de quem nunca conduziu um chasso e não sabe o que é ficar atascado, num arrozal em pleno alentejo, numa epóca em que não havia telemóveis. O chasso era como ir para a tropa, fazia de nós uns Homens, ou no meu caso, uma Mulher!!

2 comentários:

Strik3r disse...

O meu chasso: um Mini 1000 com menos 3 anos de idade que eu, que foi num Rally Paper cujas auto-estradas onde se disputou arrumaram com um Rover 213 (capotanso), um Fiat Uno 60 SX com 2 anos (suspensão) e uma Mitsubishi Strada (Eixo traseiro torcido) e sobreviveu!!!

Angel disse...

O meu chasso não é o da foto. O meu era um peugeot 205 com 10 anos e 100.000 km em cima. Bebia tanto de oleo como de gasolina e quando atingia os 160 km/h acendia todas as luzinhas vermelhas do tablier!!
Quando se ligava a ventilação, ligava também o rádio e os minimos!
Era um carro magnifico! Fazia rally com ele por zonas de arvoredo em terra solta!